Editorial

Não existe solução mágica

A proposta de abrir um canal mais ao norte para escoar as águas da Lagoa dos Patos ao Oceano Atlântico mais rapidamente é mais uma das soluções mágicas e simplistas que surgem impulsivamente diante da tragédia. É normal leigos apontarem esse tipo de ideia, mas ver um ministro de governo, como Rui Costa, levar adiante, é assustador. O caso acende um alerta, mais uma vez, para a importância de não sermos levados pela simplificação neste “novo Rio Grande do Sul” que será reconstruído. Já são dezenas de bilhões de reais disponibilizados por diversas frentes, então, que se pense em um Estado funcional ambientalmente para que no futuro ninguém mais precise passar por isso.

O caso citado por Costa já havia sido explicado em nota por cientistas do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) e do Instituto de Biociências (IBIO) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Entre outros pontos, pode afetar totalmente a salinização da Lagoa em momento futuro de baixas, causando um novo desequilíbrio ambiental que, entre outros problemas, pode levar água salgada ao Guaíba, afetando, a partir daí, o abastecimento da região Metropolitana.

Um sistema de comportas, uma eclusa, ou de outro tipo de escoamento, seria muito mais complexo do que apenas abrir um talho no estreito lateral do Estado, criando uma ilha e tudo mais. Há pressa em muitas frentes, mas em infraestrutura não é possível. Não podemos correr o risco de criar novos problemas que, de novo, desequilibrem o meio ambiente e gerem novas situações de caos e desespero.

Há que se considerar que o Rio Grande do Sul poderá sofrer com novos efeitos de chuvas, visto a recorrência recente. Mas não podemos esquecer que há pouco mais de um ano nosso caos era causado por estiagem. Ou seja, nossa relação com a natureza precisa voltar a ser equilibrada para não vivermos nesta montanha-russa de relação climática. Se não, a situação vai ser sair de uma seca para uma enchente, lidar com ciclones e tudo mais.

Tanto quanto os arquitetos e engenheiros que irão pensar a nossa nova cara, ecólogos, biólogos, hidrólogos, geógrafos, agrônomos e outros profissionais das ciências da natureza precisam ser ouvidos na hora de edificarmos prédios, abrirmos rodovias e pensarmos em tocar no curso natural dos nossos corpos hídricos.

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